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Depredação prédios históricos em CG apaga memória e preocupa historiadores

O patrimônio histórico de Campina Grande está dilapidado. Os muros, paredes e fachadas de edificações antigas que escondem um passado glorioso e a memória da Rainha da Borborema, parecem invisíveis.

Diversos prédios públicos em Campina Grande se encontram abandonados e se degradando ao longo do tempo. Alguns viraram ruínas como é o caso do antigo Cassino Eldorado, luxuoso Cabaré inaugurado nos anos 30 quando a cidade experimentou um desenvolvimento em função do auge do ciclo de algodão. A fachada construída com aspectos da Art Decó, não existe mais.

Entre as edificações abandonadas, estão o prédio em que funcionou o antigo Fórum Afonso Campos, na avenida Floriano Peixoto, no centro da cidade, os armazéns da Estação Velha; o antigo cine Capitólio, o prédio em que funcionava o Ministério do Trabalho, na Rua João Lourenço Porto; e o imóvel em que funcionava a Escola Estadual de Enfermagem, no bairro São José, o prédio do Museu Histórico e Geográfico onde ocorreu a prisão de Frei Caneca.

O casarão antigo onde morou o ex prefeito da cidade Christiano Lauritzen, conserva a beleza exterior mantendo viva esta herança histórica dos tempos que Campina Grande recebeu a ‘ponta dos trilhos’ da Great Western, através da luta empreendida pelo Dinamarquês que aportou nas sertanias paraibanas por volta de 1870. No entanto, o velho sobrado, instalado na rua Maciel Pinheiro, também apresenta os sinais do abandono.

Historiadores ouvidos pelo PB Agora manifestaram preocupação com a depredação dos prédios antigos de Campina Grande, que escondem aspectos rico da história da cidade que este mês completou 155 anos de emancipação política.

Em entrevista exclusiva ao PB Agora, o professor e historiador Josemir Camilo de Melo disse que a situação do patrimônio arquitetônico não está sob guarda alguma, com exceção do Centro Histórico, tombado em 2004, sob a guarda do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP). Mesmo assim, este órgão estadual segundo ele, depende de um ou outro voluntário que veja algum desmando no Centro e denuncie à sede, em João Pessoa.

“Alguns imóveis têm sofrido de algum abandono, como o prédio do Museu Histórico que não bem conservado, sem ter passado sequer por uma pintura que o torne palatável, além de algum desgaste na estrutura que poderá comprometer a edificação” alertou o professor Josemir, que é PhD em História.

Para Josemir Camilo, o abandono aos prédios históricos da cidade é um problema que acarreta a perda de identidade municipal.

“O mesmo pode-se dizer da residência do professor Clementino Procópio, hoje garagem de ônibus. Ficamos cobrando uma identidade municipal nas escolas de ensino fundamental, mas nós mesmos destruímos símbolos, emblemas, não preservamos o patrimônio intangível a cultura nem o tangível a arquitetura”, lamenta.

O historiador ressaltou que a burocracia do poder público, às vezes, tem causado danos ao patrimônio. Ele citou o caso de uma árvore doente que havia em frente ao prédio da Furne erguido com o estilo neoclássico. A direção da Furne comunicou às autoridades competentes que ela deveria ser arrancada, mas foi feito apenas uma poda, e uma ventania por pouco não derrubou o prédio histórico.

“O que pode ser feito é uma logística sob o comando não só do Exceutivo, através de suas secretarias, mas a consecução de uma política pública de proteção ao patrimônio histórico da cidade. Mas isto só ocorrerá se houver um órgão fiscalizador, como o que defendi na Audiência Pública da Câmara Municipal, em 16/10 do corrente, com a revitalização do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural”, aconselhou.

O setor imobiliário de Campina Grande, apontado como um dos mais dinâmicos do Estado, contribui para isso. Nesse cenário, as novas construções se misturam e disputam espaço com os prédios históricos que compõem a paisagem da cidade. A cidade conta com aproximadamente 100 empresas do ramo de construção civil e engenharia, segundo o banco de dados do Cadastro Industrial da Paraíba, disponibilizado através da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep).
Somente a área central abriga pelo menos seis prédios simbólicos para a história da cidade. A Catedral de Nossa Senhora da Conceição, com a fachada que representa o estilo neoclássico, e o Museu Histórico da Furne, em estilo barroco, estão localizados na Avenida Floriano Peixoto e são alguns desses patrimônios.

A presidente de honra do Instituto Histórico de Campina Grande, Ida Steinmuler, afirmou ao PB Agora que Campina Grande não está respeitando o seu chamado “sítio histórico”.

Ela defendeu leis mais severas para preservar o patrimônio arquitetônico da cidade e punição para as pessoas que depredam a história.

Ida Steinmuler, que trabalhou com o filho de Elpídio de Almeida, lembrou que o patrimônio de pedra e cal, também está sujeito aos desastres naturais. Como é de origem estrangeira, Ida Steinmuler lembrou da união do povo para reconstruir uma cidade da Áustria e uma Catedral da Alemanha.

Ela ressaltou que o progresso é importante mas não pode demolir os prédios históricos e que revelam toda a memória dos áureos tempos da cidade.

Para ela, a preservação dos monumentos históricos começa com a educação do povo, Ela repudiou os pichadores enfeiam a cidade, e danificam os prédios públicos.

“O que eu vejo em Campina Grande hoje é um absurdo com os prédios públicos.

A professora e historiadora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Luíra Freire Monteiro, disse que os campinenses ainda desconhecem a existência de um patrimônio histórico e cultural muito rico.

“A nossa memória está maltratada, dormente e precisa ser posta em posto para ser preserva. Isso é fundamental para que a nossa identidade enquanto campinense e enquanto paraibanos, ela sobreviva e se mantenha” destacou.

Alheio a historia e a memória, os pichadores seguem desrespeitando as autoridades e fazendo pichações em prédios públicos e privados, de Campina Grande, Muitas edificações estão marcadas pela ação dos vândalos.

Os pichadores geralmente agem com spray, canetas hidrocor ou tinta comum, pintando os prédios com nomes ou códigos de grupos específicos que só eles identificam.

Recentemente o vereador João Dantas (PSD) apresentou requerimento na Câmara Municipal de Campina Grande, solicitando por parte da Prefeitura Municipal, a realização de uma limpeza e re-pintura dos prédios públicos que estão sujos ou foram alvos de pichações. Para Dantas alguns dos principais prédios públicos de Campina Grande hoje encontram-se pichados. “Lamentamos, por exemplo, a atual situação dos prédios históricos das Boninas.

“Tudo lá é história, desde os cabarés, passando pelas fábricas de tecelagem. Em vários prédios ainda dá pra ver resquícios da década de 1930, pena que estão todos pichados”. Justificou. O vereador sugeriu ainda uma ação mais efetiva e organizada por parte da Guarda Municipal com o intuito de prevenir novas pichações e proteger o patrimônio Público da cidade.

A ação dos pichadores chamou a atenção do Senado Federal, que aprovou um projeto de lei que prevê punição para quem pichar ou depredar monumentos tombados .O Projeto de Lei do Senado (PLS) 128/2016, do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), prevê prisão de um a três anos para os pichadores.
Atualmente, a Lei de Crimes Ambientais fixa como pena para o crime de pichação e conspurcação de monumentos tombados em virtude de seu valor histórico, artístico ou arqueológico detenção de seis meses a um ano, mais multa.

O PLS 128/2016 pune a violação do patrimônio histórico e cultural com a pena já estabelecida pela Lei de Crimes Ambientais para o ato de destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

Severino Lopes

PB Agora

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