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Crônica de São João: a alegoria das Cavernas e a realidade incerta de cada um de nós

A noite pareceu menina teimosa hoje. Não consegui dormir. Meus pensamentos estavam fixados na natureza inexata do (ser) humano. Algo complexo, dotado de virtudes e falhas, sendo, ao final, um ser pensante, cuja filosofia busca, por si, manter-se vivo, sempre sedento pelo o poder, bens materiais e outras frivolidades necessárias aqui e alhures; fincando seus pensamentos num caldeirão dotado de amor e ódio, afogado em um maniqueísmo pobre, quase franciscano na acepção crua da palavra.

Mas afinal, quem somos? Tal pergunta está encravada em cada cromossomo meu e seu há milênios, buscando respostas que nunca poderão ser explicadas com exatidão nas ciências acadêmicas ou no empirismo diário. Somos frágeis, como uma bolha de sabão que se dissipa no ar. Sim, o ar que respiramos antes e depois, na eterna batalha de sermos felizes, não importando se estamos em alfa ou ômega.

Em toda retórica aqui presente, não sou eu que vou dizer quem sou, quem é você. Cada um sabe com ou sem a precisão de um arqueiro olímpico, seus clamores, afetos, carinhos que recebeu ou aqueles que nunca virão. É fato: nada sabemos, e o método socrático vem nos dizer a cada dia.

Estamos fincados na Alegoria da Caverna de Platão, que nos conta como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, embora saibamos que não existe uma verdade absoluta. Existem várias, e cada um tem a sua. Seja ela recheada de ética ou não, pois tudo parece perecer na subjetividade do (ser) humano.

Na história da Alegoria, dois homens prisioneiros estão acorrentados numa caverna, virados de costas para a abertura, por onde entra a luz solar. Eles sempre viveram ali, nesta posição. Conheciam os animais e as plantas somente pelas suas sombras projetadas nas paredes. Um dia, um dos homens conseguiu se soltar, e foi para fora da caverna.

Ele Ficou encantado com a realidade, percebendo que foi iludido completamente pelos seus sentidos dentro daquele local claustrofóbico. Agora, ele está diante das coisas em si, e não suas sombras. Diante do conhecimento da vida, apenas vida. Vida de fato. Retornando para a caverna, ele contou para o companheiro o que havia visto. Esse não acreditou, e preferiu continuar naquela gruta, vendo e acreditando que o mundo é feito de sombras. ´

A pergunta é: será que será que saímos da caverna, ou estamos iludidos no mundo de sombras? Para facilitar a pergunta, exercendo o poder de dica, podemos nos esforçar para enxergar fora da gruta opressora, mas sair totalmente presumo ser quase impossível. No máximo, podemos nos soltar e ter uma lufada de ar que nos mostre o que pensamos ser real, mas, no final, acabamos descobrindo que não sabemos quem somos. Ainda estamos na gênesis. No início dos nossos passos rumo a uma verdade absoluta quase inexistente. Um paradoxo milenar que não terá fim. E viva São João!

Eliabe Castor
PB Agora

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