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Análise: em meio a crise no PSL, Julian tenta escapar da “pecha” de traidor

O processo de separação dos gêmeos siameses, também chamados de gêmeos xifópagos ou conjugados, foi praticamente concretizado. Antes ardorosos amigos e escudeiros um do outro, o deputado federal Julian Lemos (PSL) e o presidente Jair Bolsonaro, também da mesma sigla, buscam seus respectivos “moinhos de vento”, não havendo mais uma cumplicidade similar a Sancho Pança e Dom Quixote.

Era sabido que a relação entre os dois vinha apresentando sinais de fraturas, mas a gota da discórdia, ou quase isso, que esborrou o reservatório de confiança veio na forma de um áudio vazado por um colega de legenda. Nele, é possível ouvir nitidamente que Julian Lemos participou de uma reunião com o presidente Bolsonaro.

Na pauta, amplamente divulgada pela imprensa nacional graças ao áudio, o “capitão” buscava apoio de parlamentares do PSL para “enviar” por sedex o deputado federal Eduardo Bolsonaro para liderança do partido na Câmara.

A estratégia era formular uma lista com nomes reivindicando o direito do filho do “ rei” a dar um tiro, ou facada metafórica, no deputado federal Delegado Waldir, a fim de retirá-lo da liderança da sigla na Câmara. Mas o mosquete apresentou sinais de desgaste e a faca não estava afiada.

Resultado: o presidente da República não só deu um tiro no próprio pé, mas acertou o ególatra Eduardo Bolsonaro, que também observa suas chances para ocupar a Embaixada do Brasil em Washington serem fritadas como um hambúrguer bem passado.

E nessa “fritura” extensa apareceu Julian Lemos como ponto de equilíbrio para uma possível vitória de Eduardo Bolsonaro, podendo ser ele até “Voto de Minerva” para o Delegado Waldir ser destituído do cargo. Mas isso não aconteceu.

No áudio vazado, acredite leitor, Lemos pede literalmente para sair e “cagar” na hora da reunião. Isso mesmo. Solicitou um tempo para defecar e não mais retornou ao recinto dotado da mais pura conspiração política. Em tempo, o deputado paraibano errou duplamente. Estava no local que buscava os bolsonaristas a queda da Bastilha de Waldir, e saiu à francesa daquele espaço deixando dúvidas de que lado esteve ou está.

E esse comportamento pouco ortodoxo pode ser considerado um gesto de desafeto e traição de Julian Lemos para com Bolsonaro? A boa lógica diz que sim, mesmo o parlamentar afirmando, em resposta ao portal WSCOM, que “sequer sabia que Eduardo era candidato”, fato quase impossível para o sempre bem informado deputado paraibano.

O mais interessante é que o discurso defendido por Julian Lemos é posto em xeque no áudio e na lista dos deputados que assinaram pró-Eduardo e pró-Waldir. Figura o nome do parlamentar paraibano dando apoio a Waldir.

As listas e seus números

Foram apresentadas 3 listas (2 em apoio a Eduardo e 1 defendendo Waldir) para a Secretaria Geral da Mesa definir quem deveria ocupar o cargo. A Câmara validou a permanência de Waldir na liderança, porque ele apresentou 29 assinaturas válidas, cinco a mais que a última lista pró-Eduardo. Ao todo, a bancada do PSL tem 53 deputados. Lemos votou a favor de Waldir.

Lemos tenta escapar do “limbo”, Waldir fortalecido e fundo partidário continua nas mãos de Bivar

Julian Lemos, homem de gestos acentuados e declarações polêmicas, pode ir para o “limbo” do esquecimento, pois acendeu uma vela para deus e outra para o diabo, ou vice-versa, quando apostou suas fichas em Waldir, excluindo seu apoio a Eduardo Bolsonaro e sua lista abatida pela ala bivarista do PSL. Agora busca recuar da “cagada” que ele mesmo fez, tentado mostrar fidelidade, pelo verbo, ao presidente da República.

Já Waldir é aliado do presidente nacional do PSL, o deputado federal Luciano Bivar. A insatisfação da ala de parlamentares do partido próximo ao presidente Jair Bolsonaro vinha se acentuando nos últimos dias.

O estopim ocorreu na terça-feira 15, quando o PSL se juntou à oposição em obstrução na votação da medida provisória (MP) 886, que tinha como objetivo promover uma reforma administrativa na Secretaria de Governo e na Casa Civil.

E nessa cortina de fumaça formatada em guerra de titãs está um fundo partidário gigantesco, cujo “dono do cofre” é Bivar. Algo próximo a R$ 110 milhões em 2019, que Bolsonaro não tem acesso e busca derrubar por miraculosos expedientes o presidente nacional da legenda e colocar a mão na “taça”.

Agora, mesmo a contragosto, por ser uma expressão pouco usual no jornalismo, tenho que usar a dita mais uma vez: Julian Lemos deu uma grande “cagada”, agora precisa urgentemente se “limpar”.

A declaração de Julian quando pede para “cagar” surge a partir dos 3 minutos e 49 segundos

“Olha o que aconteceu. Eu fui lá, 10h para resolver um assunto meu, chego lá eles já tinham conseguido os votos do outro lado e eles queriam que eu conseguisse o daqui e eu não posso fazer isso sem conversar com vocês, eu não faço isso. Jair me pedindo uma coisa é foda. Eu simplesmente pedi para cagar e saí e não voltei mais. Eu não vou fazer isso (assinar) irmão, não vou. Eu tenho honra”, desabafou o paraibano.

 

Julian na lista negra de Bolsonaro?

Dois dias antes do episódio envolvendo a luta entre os deputados Waldir e Eduardo Bolsonaro, o site O Antagonista publicou uma suposta lista mantida até então em sigilo pelo presidente Jair Bolsonaro. Nela, figura Juliam Lemos como traidor e outros parlamentares.

São eles: “Delegado Waldir, Júnior Bozzella, Joice Hasselmann, Nelson Barbudo, Julian Lemos, Nereu Crispim, Felipe Francischini, Major Olímpio.”

Eliabe Castor
PB Agora

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