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A bola da vez

Há certo tempo, ecoa aos quatro cantos o jargão ‘a bola da vez’, para expressar que João Pessoa consolidar-se-ia como o destino turístico e residencial mais almejado do nordeste. Obviamente, esse fenômeno deve-se a vários fatores. Ressalta-se a soma gasta pelos governos municipal e estadual, na promoção e divulgação dos atributos locais, através de merchandising e publicidade. João Pessoa, em 1999, virou enredo da escola de samba Unidos de Vila Isabel, cuja letra aborda aspectos ambientais e culturais. Contudo, nada, mas nada mesmo, foi tão vendido como a ‘tranquilidade’. Em uma das campanhas publicitárias, o slogan refletia bem essa característica: “Descubra João Pessoa. Capital da Tranquilidade.”. Pouco depois, recebeu o título de ‘Capital da Paz’, consolidou-se, mostrando a eficácia do trabalho realizado.

Imigração e duplicação

Os estrangeiros a procura de imóveis, interessados em adquirir uma segunda residência, deixaram de ter como alvo principal cidades como Natal, Recife e Fortaleza, optando por João Pessoa. Em 2008 cerca de 10% do volume total da venda de imóveis foi para consumidores estrangeiros.
Com a posição geográfica privilegiada, a 120 km do Recife e 185 km de Natal, a capital tornou-se ainda mais atraente. A finalização das obras de duplicação da BR 101 encurtará o tempo de viajem entre as cidades. Famílias mais abastadas passaram a preferir morar em João Pessoa e trabalhar na cidade de origem, uma vez que o custo de vida é menor. Explicou-me, acerca de dois anos, um novo residente de origem pernambucana:

– O custo com educação e condomínio é quase a metade do preço, e, devido ao transito do Recife, gasto o mesmo tempo que gastava antes para ir trabalhar, da minha casa, no Altiplano, até o escritório, em Casa Amarela.

– Por se tratar de uma cidade sossegada, minha família fica mais segura.

Jampa hoje


A bola caiu na caçapa. Venderam, de fato, a tranquilidade. Os bons resultados das ações governamentais continuam sendo, apenas, factóides alardeados em propagandas. Faltam políticas integradas e sistemáticas. O Centro Histórico não tem conservação. Os ônibus turísticos não têm onde parar. A cidade aumentou significativamente a quantidade de veículos, deixando o transito caótico (basta uma encostadinha entre dois veículos em uma via principal). O custo de vida aumentou. O preço dos imóveis quase duplicou. A cidade passou a ocupar o 4º lugar entre as capitais brasileiras com os índices de violência mais elevados do país.

O fato


Na noite de 30 de março último, bandidos oriundos do Rio de Janeiro, mantiveram reféns cinco mulheres, durante aproximadamente sete horas. Por ironia, dentre elas estavam a esposa, as filhas e a nora de um mega empresário da construção civil, que era o principal alvo. O local da tentativa de seqüestro também foi irônico, um apartamento de luxo na Avenida Cabo Branco, na orla marítima de João Pessoa, onde o sol brilha mais cedo.

A real vítima

Durante uma troca de tiros com os seqüestradores, um policial militar foi baleado na região do pescoço. Ficou em estado grave durante quatro dias. Neste período, foi diagnosticada a paraplegia e havia o risco iminente de ficar tetraplégico. Joelton Ribeiro Carneiro, 23 anos, teve morte cerebral na manhã de segunda-feira, 05 de abril. Joelton fazia parte do quadro da Polícia Militar havia apenas três meses. Deixou um órfão e uma pequena pensão para a viúva.

Pec 300

No Congresso tramita uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de nº 300, que propõe equiparar os salários dos Policias Militares de todos os estados da federação com os praticados hoje pelo Distrito Federal. Essa causa deveria ser abraçada por todos, não apenas pela classe. Contudo, o aumento salarial não resolveria o problema. Faltam investimentos na formação, treinamento e equipamentos para os policiais. Falta eliminar a chaga da corrupção que teima em bater continência.

De quem é a culpa?


A culpa é nossa! Somos capazes de passar horas assistindo a esses fatos com indiferença, apenas com um olhar de espectador, nem parece que foi real, afinal, não foi conosco. No Máximo, fazemos algum comentário, do tipo:

– Tu viu?! Meniiino…Como João Pessoa tá!


Mas, ao chegar em casa à noite, prestamos a maior atenção ao BBB. É real e ainda pagamos para votar no paredão. Falta a consciência dos “cidadãos”, que retroalimentam com o voto, quando votam, essa miscelânea de absurdos digna de enredo de escola de samba, simplesmente dizendo:

– Éeee…Não tem jeito, é tudo igual!


Somos reféns de nos mesmos!

 


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