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Londres dará cidadania a guerreiros gurkhas nepaleses

O premiê britânico, Gordon Brown, sancionou na quinta-feira, 21, a lei que dá a 100 mil guerreiros gurkhas nepaleses o direito de reivindicar cidadania britânica por serviços prestados às Forças Armadas do Reino Unido. A medida – que dá aos beneficiários o direito de usufruir do sistema previdenciário e de assistência médica britânico – deve custar US$ 2,2 bilhões para os contribuintes.

Nos últimos 200 anos, o Exército britânico contou com o apoio dos gurkhas, um grupo de soldados de elite conhecidos no mundo militar por sua eficiência e, muitas vezes, por sua crueldade. Incorporados às forças do Reino Unido em 1815, quando o Nepal ainda era uma colônia britânica, os gurkhas construíram sua temível reputação não só nos antigos conflitos da era colonial, mas também em guerras modernas como Malvinas, Iraque e Afeganistão.

O símbolo dos batalhões gurkhas, compostos atualmente por 3.400 combatentes de elite, são duas adagas cruzadas. As armas brancas não têm só valor simbólico; com 40 centímetros e curvatura invertida, elas dão aos gurkhas a capacidade de mutilar gravemente inimigos com um só golpe.

"Ouvimos lendas sobre eles o tempo todo no campo de batalha", disse ao Estado o veterano das Malvinas Nélido Riveros, mantido prisioneiro de guerra pelos britânicos por 30 dias. "Os próprios gurkhas alimentam essas lendas. Mas na guerra isso não importa, pois não se escolhe o inimigo", declarou o argentino.

Muitas das histórias sobre os gurkhas fazem parte da propaganda de guerra que todo Exército cultua em benefício próprio. Em favor da fama dos combatentes pesa o fato de nunca terem saído derrotados.

Na 1ª Guerra, 100 mil gurkhas alistaram-se e, apesar de muitos terem morrido em combate, a Grã-Bretanha saiu vitoriosa. Na 2ª Guerra, os 40 batalhões de gurkhas sofreram 43 mil baixas e converteram-se no regimento britânico mais condecorado da história, com 26 Cruzes da Vitória – 13 para nepaleses e 13 para seus comandantes britânicos.

Trauma

"Quando ouço trovões, ainda me lembro das Ilhas Falklands (Malvinas). Vi coisas horríveis acontecerem lá e ainda tenho pesadelos com isso", disse ao jornal londrino The Guardian o soldado gurkha Gyanendra Rai, atingido por estilhaços de bombas lançadas pelos argentinos nas Malvinas.

Rai serviu como soldado de artilharia por 13 anos e 81 dias. Há dois anos, ele pediu um visto definitivo ao governo britânico para realizar tratamentos médicos e psiquiátricos inexistentes no Nepal. Seu pedido foi negado em outubro de 2006.

Como fez com Rai, a Justiça britânica já havia negado cidadania a mais de mil veteranos gurkhas só nos consulados de Katmandu, Hong Kong e Macau, sob o argumento de que os gurkhas "falharam em demonstrar laços fortes com a Grã-Bretanha".

"Recebi seis transfusões de sangue de meus companheiros britânicos. Como eles podem dizer que eu não tenho laços fortes? Eu tenho, literalmente, sangue britânico correndo nas minhas veias", disse Rai.
 

Estadão

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