O encontro bilateral entre o subsecretário de Estado americano, William Burns, com o negociador nuclear iraniano Saeed Jalili nesta quinta-feira, 1, em Genebra marcou uma das reuniões de mais alto nível entre os dois países nos últimos 30 anos. A conversa aconteceu à margem da reunião que os países negociadores na questão nuclear e o alto representante para Política Externa e Segurança Comum da União Europeia (UE), Javier Solana, mantêm desde o início do dia com o Irã, em uma vila na localidade de Genthod, a seis quilômetros de Genebra. O grupo decidiu realizar uma nova rodada de conversas até o final deste mês.
Um funcionário norte-americano confirmou se Burns reuniu-se separadamente com o negociador iraniano durante o almoço no local onde representantes dos Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha discutem com o Irã o programa de enriquecimento de urânio do país. O funcionário norte-americano não falou sobre detalhes do encontro. Negociadores da Rússia e da China, bem como o chefe de política externa da União Europeia (UE), Javier Solana, também mantiveram reuniões privadas com Jalili durante o intervalo de duas horas para o almoço, disse Cristina Gallach, porta-voz de Solana.
A reunião desta quinta-feira na Suíça marca a primeira participação plena dos Estados Unidos em reuniões desse tipo e acontece poucos dias depois da revelação de que o Irã está desenvolvendo uma segunda instalação para o enriquecimento de urânio. Segundo emissoras iranianas, o grupo decidiu que terá um novo encontro antes do final de outubro.
Durante a reunião, o negociador nuclear afirmou que o país nunca desistirá de seus direitos "absolutos" em relação ao controverso programa atômico do país. A informação foi divulgada pela agência de notícias
iraniana ISNA. A agência iraniana afirma que Jalili explicou de forma abrangente a abordagem do país sobre o pacote de propostas para que o país desista de seu programa nuclear. Teerã deseja tornar as negociações mais amplas, incluindo aspectos econômicos e políticos. Jalili também ressaltou a necessidade do completo desarmamento global e pediu estratégias para se obter esse objetivo, segundo a ISNA.
Segundo um diplomata ocidental, familiarizado com as negociações, a sessão matutina do encontro foi rotineira, com cada lado apresentando conhecidas posições. A questão central, dizem os diplomatas, é se o Irã vai concordar em participar de negociações sérias sobre seu programa nuclear e também sobre uma série de outros assuntos, dentre ele a segurança regional.
Os negociadores internacionais tentam obter do Irã o compromisso de provar com plena cooperação e transparência que seu programa nuclear não busca fins militares, especialmente após se descobrir que o regime islâmico está construindo uma segunda usina nuclear secreta perto da província de Qom.
O sexteto acredita que a divulgação da nova instalação nuclear é mais um motivo para persuadir o Irã a concordar com a proposta pela qual o país interromperia a expansão de seu programa enriquecimento de urânio em troca da não imposição de novas sanções da ONU. Esta pausa temporária poderia abrir caminho para conversas mais amplas, como o oferecimento ao Irã de benefícios comerciais e econômicos em troca de uma solução permanente, como a suspensão de seu programa de enriquecimento de urânio. Os países do sexteto também esperam garantias do Irã de que o país vai abrir, rápida e completamente, suas instalações nucleares a inspetores internacionais.
Estadão