O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, confirmou nesta sexta-feira que mantém "para os próximos dias" a missão de mediação para a crise política em Honduras, apesar da resistência do governo interino de Roberto Micheletti, que o acusa de ser parcial. Já o mediador designado para a crise, o presidente costa-riquenho, Oscar Arias, afirmou nesta sexta-feira que não vai viajar ao país "por enquanto", como proposto pelo ex-presidente americano Jimmy Carter e aceito pelo governo Micheletti.
"Vamos seguramente nos próximos dias" a Tegucigalpa, capital hondurenha, disse Insulza à Radio Cooperativa de Santiago. A missão liderada por Insulza –e que inclui vários chanceleres e diplomatas latino-americanos- tem como objetivo mediar o diálogo entre o governo Micheletti e o presidente deposto Manuel Zelaya, que voltou ao país na segunda-feira (21) e desde então refugia-se na Embaixada do brasil em Tegucigalpa.
"Esta delegação de chanceleres já foi a Tegucigalpa, assim não vamos fazer o mesmo. Queremos instalar uma mesa de negociação", disse Insulza, questionado se a missão iria analisar a situação no país.
Em agosto, uma missão da OEA visitou Honduras por dois dias, sem conseguir que o governo interino do país aceitasse o acordo para o regresso ao poder do presidente deposto. Após adiamento e resistência do governo Micheletti, Insulza viajou com os ministros apenas na condição de observador.
Assim que a notícia da volta de Zelaya ao país foi divulgada, na segunda-feira (21), Insulza afirmou que iria ao país tentar mediar a negociação. Sua visita, contudo, foi adiada pelo fechamento dos aeroportos internacionais –reabertos somente nesta sexta-feira.
Insulza disse à rádio que ainda não há uma data específica para a viagem. "As comunicações estão muito ruins e as estradas estão fechadas", afirmou. "Espero que [uma missão preparatória] possa chegar entre o dia de hoje e amanhã e preparar a missão", acrescentou.
Nesta quinta-feira, em comunicado, a chancelaria de Micheletti pediu o adiamento da viagem de Insulza já que aceitou a visita de Carter e Arias a Tegucigalpa em um esforço por uma solução negociada.
"O presidente Roberto Micheletti Baín estará à disposição para receber, posteriormente e em uma data acertada pelos canais diplomáticos, a missão integrada por alguns chanceleres americanos e por funcionários da OEA", diz o comunicado.
Insulza atribuiu o pedido de adiamento a "mal entendidos" e "manobras dilatórias". "Vamos resolver o problema, eu sou otimista, creio que vai demorar um tempo, vai ser difícil, mas se há boa vontade de ambas as partes podemos resolver este problema", disse Insulza.
Arias
Já o presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz, Oscar Árias, declarou nesta sexta-feira que, por enquanto, não pretende ir a Honduras em missão mediadora.
‘Não, não pensei nisso [em ir a Honduras] agora", declarou Arias de Nova York à rádio Monumental de San José. "Roberto Micheletti disse que queria que eu fosse com [ex-presidente americano] Jimmy Carter. Eu falei com ele [Carter] e disse que não queria ir por enquanto, e que ele tampouco deveria ir", disse Arias.
A missão foi vista como o primeiro sinal evidente de um avanço no diálogo por uma saída à crise, já que Zelaya também disse estar disposto a dialogar sob a mediação de Arias.
Arias foi escolhido pelos Estados Unidos como mediador na crise hondurenha, mas sua proposta –o Acordo San Jose– para superar o conflito nunca foi aceita por Micheletti –que rejeita a exigência da restituição imediata do presidente deposto Manuel Zelaya.
"Parece que o trabalho prévio deve ser feito pelos chanceleres da OEA", acrescentou Arias, que participou em Nova York na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Brasil
O embarque da missão de embaixadores da OEA foi confirmada nesta quinta-feira pelo embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, que está em Pittsburgh acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação é de Clóvis Rossi, em reportagem da Folha publicada nesta sexta-feira.
Segundo Patriota, a missão da OEA embarca nesta sexta-feira ou no sábado para pressionar por um diálogo entre o presidente deposto Manuel Zelaya e o presidente interino Roberto Micheletti.
Além de Insulza, a missão levará um diplomata brasileiro de alto nível, em princípio o representante na OEA, Ruy Casaes, além de chanceleres latino-americanos.
Zelaya está na embaixada brasileira desde segunda-feira (21), quando retornou a Honduras em busca, segundo ele, de "diálogo direto" para resolver a crise causada por sua deposição, em 28 de junho passado. Por causa da presença de Zelaya, a embaixada está cercada, e as pessoas que permanecem lá dentro estão com dificuldades para receber comida. Muitas não tomam banho há três dias.
Folha