As bolsas asiáticas afundaram nesta segunda-feira (24), preocupadas com a desaceleração da economia chinesa, apesar dos esforços das autoridades para tentar tranquilizar os investidores.
Xangai liderou a queda. O índice composto da bolsa chinesa caiu 8,49%, a 3.209,91 pontos e está perto de zerar seus ganhos neste ano. Foi a maior queda diária desde o auge da crise financeira global em 2007. Durante o pregão, o índice chegou a perder 9%.
A Bolsa de Shenzhen, a segunda maior da China, registrou queda de 7,70%, a 1.882,46 pontos.
Tóquio registrou baixa de 4,61%. O índice Nikkei perdeu 895,15 pontos, a 18.540,68 unidades.
A bolsa de Sydney perdeu 4,09%, o menor nível em dois anos. Taiwan perdeu 4,84% e Seul 2,47%.
Contágio
A onda de contágio atingiu a Europa. As Bolsas de Londres, Frankfurt, Paris, Madri e Milão operavam em baixas significativas no início da sessão. Atenas perdia 4,31% uma hora depois do início das negociações.
Este início tão negativo da semana nas bolsas chinesas e de Hong Kong aconteceu apesar da decisão anunciada na véspera pelo governo chinês de permitir aos fundos de pensões do país investir até um máximo de 30% de seus ativos na bolsa.
A medida, tomada após as fortes perdas nos pregões do gigante asiático durante a semana passada, poderia representar a entrada nos mercados de valores do país de até 2 trilhões de iuanes (US$ 328 bilhões), segundo os cálculos oficiais.
No entanto, esta decisão parece não ter tido repercussões hoje nas bolsas, onde os operadores não esperam um efeito imediato nem tão amplo como o anunciado pelas autoridades.
Crise?
A desaceleração econômica da China e a forte queda de seu mercado acionário não é o anúncio de uma crise mas um ajuste "necessário" da segunda maior economia do mundo, segundo afirmou neste final de semana um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Novas evidências de que o crescimento da China está freando afetou os mercados mundiais na sexta-feira e provocou a maior queda diária de Wall Street em quase quatro anos.
"As políticas monetárias têm sido muito expansivas nos últimos anos e um ajuste é necessário", disse Carlo Cottarelli, diretor-executivo do FMI representando países como Itália e Grécia.
"É absolutamente prematuro falar de uma crise na China", disse o diretor a jornalistas.
Cottarelli reiterou a previsão do FMI de crescimento da China de 6,8% para este ano, abaixo dos 7,4% em 2014.
"A economia real da China está desacelerando, mas é perfeitamente normal que isso ocorra (…) o que aconteceu recentemente foi um choque nos mercados financeiros, o que é natural."
O que está acontecendo com a bolsa chinesa?
As ações chinesas vêm perdendo valor desde o mês passado. De junho até agora, a queda passa de 30%. Os dados da economia chinesa não têm sido muito positivos ultimamente, e isso vem gerando temor entre os investidores sobre a "saúde" do país. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo, apesar de ter crescido 7%, mostrou o pior ritmo em seis anos.
"Nunca vi esse tipo de queda antes. Não acho que alguém tenha visto. A liquidez está totalmente esgotada", disse o analista da Northeast Securities Du Changchun.
Não se sabe, no entanto, o que provocou a forte onda de venda de ações que acentuou a queda das cotações nos últimos dias.
Quem são os investidores que estão fugindo da bolsa?
Na China, diferentemente dos mercados europeus ou dos Estados Unidos, 80% dos investidores são cidadãos, pessoas físicas. Muitos deles são inexperientes e seguem rumores ao tomar decisões. Assim, o mercado é mais vulnerável a reviravoltas repentinas, como num rebanho.
Outro lado da questão é que investidores de longo prazo estão investindo menos em ações porque muitos acumularam bons ganhos no último ano. O índice de Xangai, por exemplo, havia acumulado alta de 150% até junho.
Por que o público investidor é diferente?
O governo de Pequim tinha visto nos mercados acionários uma peça importante na estratégia de transformar o país numa sociedade de consumo. A popularização das bolsas serviria para recapitalizar as endividadas empresas do país e, ao mesmo tempo, fazer com que o pequeno investidor se sentisse rico. No entanto, o efeito tem sido oposto.
Como fica a situação das empresas que têm ações nas bolsas?
Com essa forte queda, as empresas tiveram que suspender a negociação de suas ações para que o "prejuízo" não fosse ainda maior – ou seja, esses 1.300 papéis não puderam ser nem comprados nem vendidos.
O governo chinês tomou alguma providência diante dessa queda?
A agência que supervisiona as maiores estatais do país disse tê-las aconselhado a não vender ações e a comprar mais "para garantir a estabilidade do mercado". Mas as medidas não surtiram efeito – e o risco de intervenção do governo poderá só piorar as coisas, já que investidores podem se assustar ainda mais.
Outras medidas foram tomadas incluem emissões de bônus financeiros ou refinanciamento de empréstimos e o aumento das compras de ações de pequenas e médias empresas pela Comissão Reguladora da Bolsa de Valores da China para aumentar a liquidez do mercado.
As autoridades chinesas já tinham tomado durante o fim de semana uma ampla bateria de medidas para acalmar o mercado, mas não adiantou.
O que os analistas pensam sobre isso?
Alguns analistas não acreditam que o medo de que uma queda ainda maior das bolsas possa causar um choque mais sério na economia.
"O mercado acionário é tão pequeno, completamente irrelevante", disse Chen Long, economista da Gavekal Dragonomics para a China. "Responde por apenas 5% da riqueza das famílias chinesas e, de qualquer maneira, o mercado está no mesmo lugar onde estava no ano passado."
Além do risco econômico, há o potencial de revolta popular com as perdas. Em meio a uma desaceleração do PIB, a última coisa que o governo quer são dezenas de pequenos investidores protestando nas ruas.
Há reflexos no Brasil?
O principal índice da Bovespa fechou em baixa. O mercado está cauteloso quanto a eventuais efeitos de nova queda nos mercados acionários na China.
"A forte correção nos mercados acionários da China pode ser indício de uma desaceleração mais ampla do gigante asiático e quem deve sofrer com isso são aqueles países exportadores de commodities, como o Brasil", escreveu em nota a clientes o operador Jefferson Luiz Rugik, da corretora Correparti.
G1