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Pobres pagam mais pela água do que ricos, afirma ONU

Hoje, mais da metade da população mundial não tem acesso a água limpa e saneamento

A ONU divulgou na terça-feira 19 seu relatório mundial sobre o desenvolvimento dos recursos hídricos e trouxe dados alarmantes: mais de 2 bilhões de pessoas não têm acesso a uma fonte adequada de água potável e um número ainda maior, 4,3 bilhões, não têm saneamento básico.

“Melhorar a gestão dos recursos hídricos e fornecer a todos o acesso a água potável e saneamento seguros e acessíveis financeiramente são ações essenciais para erradicar a pobreza, construir sociedades pacíficas e prósperas e garantir que ‘ninguém seja deixado para trás’ no caminho rumo ao desenvolvimento sustentável”, afirma o texto divulgado pela Unesco e intitulado Não deixar ninguém para trás.

O título do relatório se refere a um aspecto chave do levantamento: a desigualdade do acesso. Pessoas que são pobres ou sofrem discriminação social têm maior probabilidade de ter acesso limitado a água e saneamento adequados, observou o relatório.

Como exemplo de grupos desfavorecidos e que experimentam desigualdades “na garantia de seus direitos humanos a água potável e saneamento seguro”, o documento cita pessoas que sofrem discriminação por causa do sexo, idade, etnia, religião, além de minorias de outra natureza, como indígenas, migrantes e refugiados. No entanto, a pobreza é o fator de destaque.

Segundo o editor-chefe do relatório, Rick Connor, casas urbanas ricas com água encanada tendem a pagar muito menos por litro de água, enquanto pessoas pobres que moram em favelas muitas vezes precisam comprar água de caminhões, quiosques e outros fornecedores, gastando cerca de 10 a 20 vezes mais.

“A percepção errada é que eles não têm água porque não podem pagar por ela — e isso está completamente errado”, disse Connor à Fundação Thomson Reuters.

Quase metade da população que consome água potável de fontes desprotegidas no mundo vive na África Subsaariana, onde apenas 24% dos habitantes têm acesso a água potável segura.

Relatório prevê futuro de crescente escassez

De acordo com o documento, estudos internacionais mostram bons retornos sociais e econômicos de investimentos em serviços de água, saneamento e higiene.

O relatório alerta que um futuro de crescente escassez é previsível, o que trará efeitos negativos para a economia global. Até o ano 2050, 45% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 40% da produção mundial de grãos serão ameaçados por danos ambientais e falta de recursos hídricos.

O uso de água tem aumentado cerca de 1% ao ano em todo o mundo. A taxa deve se manter estável até 2050, quando a demanda representará um acréscimo entre 20% e 30% em comparação aos níveis atuais, puxada pelos setores industrial e doméstico. Hoje mais da metade da população mundial não tem acesso a água limpa e saneamento.

Na Europa e nos EUA, 57 milhões não têm encanamento em casa

Na América Latina e Caribe, afirma o relatório, milhões ainda vivem sem fonte adequada de água potável, enquanto um número ainda maior não dispõe de saneamento. Esses grupos estão concentrados nos cinturões de pobreza das periferias de muitas cidades.

Segundo a Unesco, em muitos países da região, a descentralização deixou o setor de abastecimento e saneamento fragmentado, “composto por inúmeros prestadores de serviço, sem reais possibilidades de alcançar economias de escala ou viabilidade econômica” e sob a responsabilidade de municípios sem recursos e incentivos necessários para abordar a complexidade do problema de forma efetiva.

Mesmo na Europa e nos Estados Unidos, 57 milhões de pessoas não têm encanamento em casa e 36 milhões não têm saneamento básico, afirmou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, na apresentação do estudo. Entre outros, comunidades do Canadá e da Índia têm desvantagens severas, já que 40% delas possuem apenas água potável de qualidade baixa, o que acarreta consequências para a saúde.

Além disso, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em países com “alto estresse hídrico” – onde mais de um quarto da água disponível é consumida. Estudos recentes apontam que mais de 50 países são afetados por estresse hídrico e que em alguns deles cerca de 70% dos recursos já estão sendo usados.

Assim, grandes reservas são consumidas e a disponibilidade de água chega ao limite. Mais de 20 países são afetados, incluindo Egito e Paquistão.

Alemanha pode fazer mais

Diante dos resultados do relatório, Ulla Burchardt, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e membro da comissão alemã na Unesco, afirmou que a Alemanha pode fazer mais.

Embora o país esteja no caminho certo no âmbito da garantia dos direitos à água, “somos parcialmente responsáveis pelos grandes problemas em outras regiões do mundo, como a importação de algodão ou de carne bovina, cuja produção pode demandar uso intensivo de água”, declarou Burchardt.

“A garantia de acesso à água e ao saneamento são direitos humanos”, disse ela. “Mas bilhões de pessoas não têm esses diretos concretizados”, completou.

 

Carta Capital 

Foto: divulgação


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