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Feliz na Turquia, Roberto Carlos critica Etoo: Queria controlar o Anzhi

 A saída do Corinthians e a chegada ao Anzhi Makhachkala, em 2011, iniciaram uma nova fase na carreira de Roberto Carlos. Na Rússia, o ex-lateral-esquerdo da Seleção teve seu primeiro contato com as funções de diretor e treinador, e acabou se apaixonando pelas tarefas fora das quatro linhas. Contratado em maio para assumir o comando técnico do Sivasspor, da Turquia, deixou para trás a ideia de passar o resto de sua vida no clube do milionário Suleiman Kerimov. E, curiosamente o que acabou atrapalhando a concretização de seus planos foi a contratação de um jogador com seu aval: o atacante camaronês Eto’o. Para o brasileiro, o africano acabou interferindo em seu trabalho e o desmotivando a seguir no Daguestão.

– Eu cheguei e, no primeiro ano, ficamos entre os cinco primeiros. Conseguimos profissionalizar o time. No segundo, contratamos o Eto’o, e eu tinha controle com relação ao time: organizava os jogadores e trabalhava com o treinador. Coloquei o Anzhi entre os melhores. Com a chegada do Eto’o, com aqueles valores todos envolvidos, tive alguns pequenos probleminhas com relação ao vestiário e tinha que conversar com os atletas russos e explicar o porquê de o Eto’o estar ali. Mas chegou a um momento em que o Eto’o pensava em interferir no meu trabalho, controlar o clube, ocupando o meu lugar e o do Guus (Hiddink, treinador do clube na época). A gente falava uma coisa, e ele ia no jogador e falava outra. Isso foi me estressando, e avisei que ia pegar minha mala e ir embora. Ninguém acreditava, porque eu tinha um contrato de quatro anos. Mas aí liguei para o clube e cheguei a um acordo – revelou o ex-jogador.

Contratado em 2011, ao Inter de Milão, Eto’o chegou ao Anzhi para comandar o time dentro de campo e passou a ser o jogador mais bem pago do mundo, com salário de cerca de € 20 milhões anuais (R$ 60,5 milhões). No mês passado, o camaronês deixou o clube russo para assinar com o Chelsea, mas voltou a mostrar sua personalidade forte após partida entre Camarões e Líbia, no último domingo. Segundo a imprensa francesa, o atacante afirmou que não jogará mais por sua seleção por divergências com o técnico Volker Finke, que não teria escalado jogadores sugeridos pelo veterano de 32 anos.

– Eu conheço o Eto’o desde os 16 anos, e desde aquela época sempre foi um cara que eu gostava muito, mas queria se meter onde não era chamado. É uma boa pessoa, mas a parte onde ele pensa "eu, e não o grupo" prejudicou muito. Quando um jogador, em vez de jogar, fica interessado na contratação de jogadores, indicar amigos… Era confuso, meio estranho. Ele fazia de tudo, menos jogar bola – opinou Roberto.
Treinador estilo ‘família’

Com as questões do Anzhi no passado, Roberto Carlos foca sua vida no futebol turco atualmente. Com passagem pelo Fenerbahçe como jogador, o ex-lateral comandou o Sivasspor em apenas três partidas nesta temporada, conseguindo, até o momento, uma vitória e duas derrotas. Para concretizar seu projeto de conseguir uma vaga em uma competição europeia na próxima temporada (sonho considerável palpável, uma vez que Fener e Besiktas sofreram sanções da Uefa), o brasileiro pretende apostar no estilo ‘família’ para criar um grupo unido.

– Controlar 25 jogadores, cada um com uma mentalidade, é muito difícil. Quero montar um grupo de jogadores em que todos pensem a mesma coisa, e vou chamando um por um, mostrando o que conquistei com relação a títulos e convivência. Passo a experiência do que tive, e como minha vida foi mais fácil trabalhando em conjunto. Sozinho, não se consegue nada. Eu faço muita terapia de grupo, de família, que quando se tem grupo bom, nos jogos importante isso prevalece.
Todo mundo achava que a Rússia era fim de carreira para jogador e treinador também. Pelo que vivi no Fenerbahçe e no Sivasspor, a Turquia também é um mercado muito bom para se trabalhar"

Roberto Carlos
Ao assumir um clube da Turquia, sem grande repercussão mundial, Roberto Carlos sabia que estava nadando contra a maré. Com grande fama no mundo do futebol, o lateral afirmou que escolheu o Sivasspor por causa do projeto, e acredita que conseguirá provar que o mercado turco também pode ser competitivo.
– Todo mundo achava que a Rússia era fim de carreira para jogador e treinador também. Pelo que vivi no Fenerbahçe e no Sivas, a Turquia também é um mercado muito bom para se trabalhar. Tem jogadores com bons contratos. Quando anunciei que tinha a licença de treinador (tirada em curso no Peru), vários clubes me procuraram. O Sivas foi mais rápido dentro de uma lista de cinco, e o presidente mostrou que ele queria fazer projeto de em dois ou três anos disputar uma competição europeia. Tive propostas de China, Doha, Dubai, Rússia, mas eram todos clubes para começar do zero – disse.

Reconhecimento ajudou a iniciar carreira
Para poder inicar sua trajetória como treinador, Roberto Carlos contou com a ajuda de seu próprio prestígio. Apesar de ter realizado um curso que forma técnicos na federação peruana, o brasileiro teria a necessidade de ser licenciado pela Uefa – mas a Federação Turca abriu mão da exigência para poder contar com um dos grandes nomes do futebol mundial em seu campeonato nacional. O ex-lateral pode atuar à beira do campo normalmente, embora seja relacionado na súmula como dirigente.

– A Federação Turca mandou um comunicado dizendo que tinha orgulho de ter um jogador com o currículo que eu tenho trabalhando lá. O presidente me deu liberação para trabalhar, mas aparecendo como diretor na súmula. E isso foi bom, porque ele abriu espaço para outros treinadores sem licença trabalharem – contou o ex-lateral, que fará um curso intensivo para conseguir a autorização necessária.

Roberto Carlos ao lado de Guus Hiddink no Anzhi

Roberto Carlos revelou que a vontade de ser treinador não é algo novo em sua vida, e que foi inspirado por cada comandante que teve no futebol. O período em que foi auxiliar de Guus Hiddink no Anzhi também trouxe experiência para a carreira recém-iniciada.

– A única coisa que não havia pensado era ser diretor de um time, e acabei sendo por um tempo (risos). Minha vontade era continuar dentro do campo, como estava fazendo no Anzhi, de certa forma. Eu já tinha vontade de ser treinador, tanto que fiquei 20 dias no Peru fazendo curso. Minha carreira no Real Madrid e na seleção brasileira facilitou muito minha vida e abriu portas. Mas a convivência com o Guus também me fez aprender muito em um ano e meio. E também peguei a experiência de outros treinadores, como Felipão, Capello, Luxemburgo.

Ao ver de longe a reformulação de todo o elenco do Anzhi, Roberto Carlos acredita que o futuro de seu ex-clube não é nada animador. Para o ex-jogador da seleção brasileira, houve despreparo dos dirigentes que seguiram na equipe do Daguestão após sua saída.

O Anzhi vai fazer ridículo na Liga Europa. Se não contratar um bom treinador, um bom diretor esportivo, esse clube acaba em dois anos"

Roberto Carlos
– Eu dizia: "Se eu e o mister (Guus Hiddink) formos embora, o clube vai perder toda a estrutura". Não imaginei que o Suleiman ia mudar tão rápido de ideia. Se eu estivesse lá, não iria perder toda a estrutura. Todos os jogadores que levamos foram embora. É falta de experiência. O time vai fazer ridículo na Liga Europa. Se ele não contratar um bom treinador, um bom diretor esportivo, esse clube acaba em dois anos – lamentou.

Questionado se tem alguma meta específica como treinador, Roberto afirmou que pretende viver cada temporada de uma vez e preferiu não fazer planos.
– Minha meta é sempre ser um treinador respeitado, vencedor, como fui como jogador. Não sou muito de metas. Sempre fui ano a ano, tentando fazer o melhor dentro de campo. Nunca fui o melhor e nem o pior. Minha meta é jogo a jogo, aprendendo pouco a pouco. Nunca querendo ser o melhor treinador do mundo, mas sempre ser o mais correto – encerrou.

Globo.com

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