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Antes de sair do BC, Meirelles pode subir juros

Com os dois pés praticamente fora do Banco Central, já que a presidente eleita, Dilma Rousseff, não o quer no cargo a partir de 2011, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, indicou a pessoas próximas, nos últimos dias, que poderá comandar um movimento de alta da taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 7 e 8 de dezembro, a última de sua gestão. A intenção de Meirelles é demarcar território e mostrar que, sob a sua batuta, o BC prima pela autonomia e pelo cumprimento do sistema de metas de inflação. Dados internos do banco mostram que a inflação do próximo ano já se distanciou muito do centro da meta definida pelo governo, de 4,5%.

Dois nomes estão na mesa de Dilma para suceder Meirelles: Alexandre Tombini — praticamente confirmado —, atual diretor de Normas do BC e o preferido do presidente do BC, por sinalizar uma continuidade nas ações da política monetária, e Nelson Barbosa, atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “Se vier, a alta da Selic não deverá ser vista como um ato de pirraça de Meirelles, somente porque ele foi preterido por Dilma. Realmente, as expectativas inflacionárias estão se distanciando muito do centro da meta. É preciso agir rápido, justamente para que o governo da presidente eleita seja mais tranquilo”, disse um técnico do BC.

Na avaliação dos analistas, o atual cenário de inflação não se tem mostrado tão benigno quanto previa a autoridade monetária há algumas semanas. Além das pressões causadas pelo forte consumo doméstico, os gastos públicos têm impulsionado ainda mais a demanda e, consequentemente, os preços. Os Índices Gerais de Preços (IGPs), que corrigem aluguéis, mensalidades escolares e tarifas públicas, dispararam desde o início de novembro, devendo acumular alta de mais de 10% neste ano. Com a inflação em dois dígitos e disseminada, Meirelles deverá alegar, no caso de elevação dos juros, que prevaleceu o bom senso do BC e, acima de tudo, a sua reputação, que ajudou a consolidar a credibilidade da política monetária brasileira.
 

Fator político
As estimativas de inflação do mercado têm causado irritação no diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo. Em público e nas reuniões que realiza com economistas, ele tem insistido nos números do BC, mesmo quando contestado por dados e fatos apontados pelos especialistas. Nos bastidores, porém, o que se diz é que ele vota com Meirelles e que, no próximo Copom, deve decidir em prol de um aperto monetário. “Independentemente de Meirelles ter dado declarações ou não, pela cabeça ortodoxa do BC e pelos últimos índices de inflação divulgados, a tendência seria de aumento (da Selic em dezembro)”, disse Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).
 

Para Garcia, a decisão no próximo Copom não será tomada apenas com base em estatísticas. O fator político deverá pesar mais do que qualquer alta de preços. “Haveria espaço político para um aperto monetário? O presidente do BC compraria uma briga com a presidente eleita? Aparentemente, ele ainda sonha com uma vaga no governo”, provocou.

Prévia sai hoje
Sai hoje o Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15
(IPCA-15), a parcial de novembro da inflação oficial. O consenso entre os analistas é de que, depois da paulada do indicador no último mês — quando superou todas as projeções e chegou a 0,75% — o número da parcial deve vir forte novamente, entre 0,62% e 0,72%. A carne bovina, devido ao encarecimento dos grãos usados como ração, as frutas, o açúcar e o feijão — com problemas de safra — prometem ser os vilões do mês.

Correio Braziliense

 

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