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Brasileiro reescreve livro sobre Santos Dumont no Twitter

O nome da obra “Santos Dumont número 8” soma 22 caracteres, considerando os espaços existentes entre as palavras. Por conta do tamanho, a adaptação desse livro para o Twitter — serviço de microblog que permite textos com no máximo 140 caracteres — exigiu que o nome do projeto fosse abreviado para SD8. Ou @SD8, se considerado o principal perfil criado para contar essa história que, no formato de livro, ocupa 464 páginas.

Confira no final desta reportagem uma entrevista, feita via Twitter, sobre o projeto SD8.

O responsável pela “twitterização” da obra é o carioca Claudio Soares, também autor do livro lançado em 2006. Seu objetivo com o projeto não é simplesmente copiar e colar o texto do romance original — até porque, como ele mesmo explica, isso exigiria a publicação de nada menos do que 10 mil tweets (mensagens no Twitter). “A ideia é identificar formas de personalizar a experiência de leitura, de acordo com as preferências do leitor, usando para isso o potencial de adaptação da internet”.

Na prática, essa experiência está baseada na criação de diferentes perfis no Twitter – por enquanto são oito deles –, sendo que o @SD8 representa a espinha dorsal do projeto. Ligados a ele estão mais sete perfis fictícios, de personagens que fazem parte do livro original. No processo de “twitterização” do romance, os personagens vão narrando os fatos sob seus próprios pontos de vista e, quando possível, interagem com o público (ou “seguidores”, no jargão do Twitter).

“O Twitter dificulta a absorção sequencial da história: esse foi um dos motivos para eu ter escolhido dividi-la em vários perfis. A narrativa é capturada de forma fragmentada e, assim, oferecemos alternativas para que os leitores ‘capturados’ no site possam sempre acompanhar e ler a história como um todo”, explicou o autor ao G1. O livro original já oferecia alternativas aos leitores: ele pode ser lido sequencialmente ou em trechos não-sequenciais.

O SD8, primeira iniciativa de twitterização de um livro brasileiro, começou no dia 30 de março e será finalizada em 20 de julho – aniversário de Santos Dumont. Além dos twitts, todo o desenvolvimento do projeto pode ser acompanhado em um blog, no qual Soares divulga detalhes sobre o desenvolvimento do SD8.

 

Confira abaixo uma entrevista do G1 com o autor Claudio Soares feita via Twitter. Pela limitação de espaço (140 caracteres), muitas das respostas que serviram como base para o texto acima tiveram de ser complementadas via e-mail — uma indicação de que, apesar da crescente popularidade, o Twitter talvez ainda não esteja pronto para engolir outras ferramentas de comunicação digital.

G1 – Como surgiu a ideia de levar um livro inteiro para o Twitter, criando microtextos relacionados ao conteúdo original? Quando foi isso?

Claudio Soares – A internet é um ambiente de criação. Se em papel, o SD8 já era hipertextual, no Twitter, fragmentado, vira um interessante xadrez.

G1 – Qual o principal objetivo desse projeto?

Soares – Experimentar uma multinarrativa interativa, personalizável, sinestésica, distribuída, linkada a canções, vídeos e artigos da Wikipedia.

G1- Você diz que essa adaptação não se trata de ‘copiar-e-colar’ o romance original. Como ela é feita, então?

Soares – No SD8 original lê-se “O autor esvaziava-se de suas personagens”, no Twitter, elas adquirem voz própria, e, às vezes, até me surpreendem.

G1 – Qual conteúdo do livro é o mais difícil de ser colocado no Twitter? Aquele que você gasta mais tempo para ‘twitterizar’?

Soares – Eu criei um roteiro, associando situações e personagens cujas vozes adquirem autonomia. @sd8 é um romance vivo e essencialmente novo.

G1 – Além de ‘twitterizar’ a narrativa principal, você criou sete personagens com perfis no Twitter. Qual a importância deles?

Soares – No livro, o capítulo 8 não existe; lembra a estranha relação entre 8 e noite em vários idiomas. No twitter, 7 perfis sugerem um oitavo.

G1 – Tem uma estimativa de quantos twitts serão necessários para levar um livro de 464 páginas ao microblog? Em quanto tempo fará isso?

Soares – A twitterização completa seria impossível. Os personagens narram a história. O @sd8 é um romance novo, escrito ao vivo, e vai até 20/07.

G1 – Quem você imagina ser o público? Acredita que as pessoas vão ler na tela do computador ou do celular? Como será o ‘consumo’ desse conteúdo?

Soares – Qualquer seguidor é um leitor potencial, assim, usamos a hash tag #sd8 para contextualizar os fragmentos, também traduzidos para o inglês.

G1 – Qual a parte mais divertida dessa experiência até agora? E a mais chata?

 

Soares – É com assombro que constato que toda ficção é, potencialmente, inesgotável, um paradoxo para quem, como eu, desenvolve algoritmos.

 

G1

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