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Alain Resnais fala de “Les herbes folles”

NOVA YORK – Baseado no romance L’Incident, de Christian Gailly, Les herbes folles, 48º longa do consagrado cineasta Alain Resnais, acompanha a transformação na vida de Marguerite (vivida por Sabine Azéma, diva do diretor), depois que sua bolsa é roubada na rua. Um homem (André Dussollier) encontra a carteira com documentos, descartada pelo ladrão, num estacionamento e, ao tentar devolvê-la, entra num processo irracional sem controle e se apaixona por ela. Embora casado e mesmo sem conhecê-la pessoalmente, passa a lhe escrever e telefonar, como se ambos já tivessem uma relação consolidada. Exibido no Festival de Nova York – onde o francês já havia apresentado em 1998 A mesma velha canção, biografia do inglês Dennis Potter e, em 2006, Medos privados em lugares públicos – o filme tem sua primeira sessão quarta-feira no Festival do Rio.

– Estava pensando em fazer a adaptação de uma peça de teatro e já tinha lido mais de 30 delas quando pus as mãos no livro de Christian. Imediatamente, falei com meu produtor que tinha encontrado o que vínhamos procurando durante semanas – comenta Resnais. – Conversamos com Gailly e ele me deu total liberdade para escolher qualquer um dos seus 12 livros. Eu já conhecia quatro deles e, nas semanas seguintes, li mais alguns, mas me decidi por O incidente.

Resnais disse que se manteve fiel aos diálogos e à cronologia do livro e que Gailly foi uma referência constante nas filmagens.

– Ele foi a interseção nas nossas tentativas de atingir a nota certa. Todas as vezes em que foi preciso encontrar uma solução para uma determinada questão, a totalidade do trabalho de Gailly era nossa inspiração – destaca o diretor. – Durante as filmagens, procurávamos encontrar equivalência para o seu estilo, seu jeito único de interromper uma frase no meio, o uso do afirmativo e negativo na mesma sentença, sem esquecer as flagrantes contradições dos personagens e sua constante impulsividade.

Sobre o título do filme – que pode ser traduzido como “ervas selvagens” e despertou curiosidade no público nova-iorquino – o diretor disse que corresponde àqueles personagens que seguem impulsos fora do que é considerado razoável.

– É como aquelas raízes de árvores que aos poucos vão criando rachaduras no asfalto da cidade. Enfim, crescem onde menos se espera – compara.

Embora possa ser considerado como um legítimo representante do chamado cinema de autor, Resnais refuta o epíteto:

– Nunca me considerei um autor. Se eu não escrevi a história, não posso me considerar autor dela. Além disso, na equipe de um filme há o roteirista, o cenógrafo, o fotógrafo e eu não dirijo nenhum deles. A minha relação com eles é de troca e de parceria, e não de autoria.

O diretor francês, que ainda tem planos de levar às telas a vida do Marquês de Sade e um filme em quadrinhos (uma de suas grandes paixões ao lado do cinema) manifesta bastante otimismo em relação ao futuro de seu ofício.

– Não acredito que o cinema corra o risco de morrer, como muitos dizem. O glamour que ele tem e traz para os espectadores não mudou em 100 anos e não creio que vá mudar daqui em diante. Ele vai continuar cada vez mais vivo – conclui, reafirmando que depois de 50 anos de carreira nada mudou na sua forma de encarar o cinema. – Jamais pensei nisso. Continuo sendo o que sempre fui e apenas procuro ser sincero no que faço.

Jornal do Brasil

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