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RIO DE JANEIRO: brinde mais caro na favela que no asfalto

 A laje de Azelina Viana dos Santos, no alto do Morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, volta e meia é invadida por crianças à caça de uma pipa. Mas na festa de réveillon que será realizada no local poucos poderão entrar. Com champanhe, uísque e paella, a entrada sai por mil reais. Mais do que o cobrado para a festa do Forte de Copacabana, que terá show de Jorge Benjor: o ingresso está sendo vendido a R$ 869.

O produtor da virada na favela, Daniel Plá, aumentou em 300% o valor do ingresso para turistas em apenas um ano: em 2011, uma vaga na laje de dona Azelina custava R$ 250. Para este réveillon, apesar do preço inflacionado, restam apenas seis vagas. Todo o dinheiro arrecadado, garante Plá, será destinado a melhorias na comunidade, ocupada pela Polícia Militar desde dezembro de 2009.

— Sabíamos que teríamos uma demanda danada. A arrecadação da festa vai toda para os moradores do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho — diz o organizador do evento. — A festa começa com um tour pela favela. Pela primeira vez em quatro anos, teremos mais brasileiros do que gringos.

Azelina admite que suas festas incrementadas já atraem olhares invejosos de vizinhos.

— Se todo mundo tivesse a força de vontade que eu tive para melhorar a laje, a minha casa certamente não seria a melhor do morro — rebate.
No vizinho e também pacificado Cantagalo, a casa do funcionário da Comlurb Miguel Carvalho também vai receber turistas. Com direito a cerveja, caipirinha e churrasquinho — e ingressos a R$ 250 —, o “viradão do Miguel” já está lotado.

Teleférico vai virar mirante

Do outro lado da cidade, no Morro do Adeus, em Bonsucesso, o estudante Rene Silva dos Santos, de 19 anos, conta que os moradores estão animados para assistir à queima de fogos do alto da estação do teleférico. No Complexo do Alemão, porém, a virada de ano — a primeira após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na região — é mais democrática. Os moradores costumam fazer piquenique nas partes altas das comunidades.

— O Natal foi tranquilo, vários bailes ocorreram sem conflitos. É o primeiro ano novo com a UPP. A expectativa é grande. O pessoal já se programou para fazer churrascos nas lajes. Os comerciantes comentam que estão vendendo bem. Antes das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), era difícil subir o Morro do Adeus, não havia acesso. Agora, há uma estrada que dá acesso a uma área com vista privilegiada — conta Rene, criador do portal Voz das Comunidades, de notícias sobre favelas cariocas.

As festas no Arvrão, no Vidigal, outra favela pacificada, já caíram no gosto da classe média, e neste réveillon não deve ser diferente. O austríaco Andréas Wielend, dono da pousada Alto Vidigal, não fará uma supercelebração, mas aposta que a praça do Arvrão estará lotada para receber 2013.

— A dica é chegar cedo, por volta das 16h, por causa das interdições no trânsito. Na pousada, faremos um evento mais restrito aos hóspedes.

Dono de um quiosque no Arvrão, Altair da Silva, de 70 anos, aposta no sucesso da festa da virada:

— Enquanto os fogos estiverem pipocando em Copacabana, haverá gente aqui na praça.

Na Rocinha, a tradicional confraternização na laje de Carlinhos Baiano ficará restrita à família. Ele diz que a comunidade tem enfrentado graves problemas — como falta d’água e de luz — e que não faria sentido comemorar com turistas neste momento.

O Globo

 

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