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Aflições pastorais na Pandemia da Covid-19

Foto: Universidade de East Anglia

Temos vivido tempos de aflições com a pandemia do COVID 19. Esta realidade impactou o modo e viver de toda humanidade em proporções significativas. Dos países desenvolvidos ao subdesenvolvidos o impacto deste vírus trouxe dores intensas em razão de sua complexidade.

Temos presenciado seu impacto em muitas profissões em especial nos profissionais da área da saúde que lidam diretamente nos quadros mais graves da doença em pacientes hospitalizados.

As profissões relacionadas ao cuidado humano tiveram importante repercussão inclusive os que cuidam da saúde mental e emocional. Temos presenciado o elevado índice de ansiedade, depressão, transtorno de pânico entre outras patologias que necessitaram de atenção profissional dada a complexidade destes estados mentais alterados e seu impacto nas famílias desde o início da pandemia.

Jornais noticiaram médicos e outras configurações profissionais exauridos pelo excesso de trabalho e pela luta para salvar vidas que em escala crescente superlotaram as UTIS do mundo inteiro trazendo elevados índices de mortalidade.

A atividade pastoral tão essencial por sua especificidade também foi afetada. Os pastores se viram sob diversos desafios desde o inicio da pandemia.

• A necessidade de se adaptar a uma realidade midiática de transmissão de seus cultos incluindo mensagens e estudos para os fiéis. Para alguns pastores que já utilizavam como alternativa os meios às redes sociais o presente momento apenas trouxe um reforço positivo para sua adaptação e aprimoramento das transmissões;

• Conviver com a ausência dos membros de sua comunidade. Apesar do retorno presencial em 30% com as flexibilizações, mas muitos membros faziam parte do chamado grupo de risco não podendo participar das atividades presenciais mesmo sob controle dos protocolos bem como ficaram impossibilitados de receberem visitas presenciais dos seus pastores ficando apenas a opção online.

• Atender de modo específico e eficaz as diferentes faixas etárias de sua comunidade local;

• Acompanhar espiritualmente e emocionalmente as inúmeras situações que lhe chegaram no contexto da família, das repercuções sociais de desemprego, estados emocionais alterados nos seus membros, e luto;

• Lidar com a diminuição de seus membros que não retornaram quando reiniciou as atividades presenciais. Estariam eles acostumados ao novo modelo ou de fato desistiram da fé que outrora professavam?

• Lidar com as determinações Governamentais e Municipais que regulamentaram os protocolos a serem seguidos para celebrações presenciais bem como as variações destas determinações que geraram instabilidade no ritmo das atividades pastorais;

Frente a estes desafios, os pastores viram de igual modo sua humanidade mais expostas tendo necessidade de cuidado. Aquele que cuida em todo tempo se viu em limitações sentindo as mesmas dores: medos, inseguranças, ansiedade, depressão e alguns foram vitimados pelo vírus e vieram a óbito. Este cenário nivelou pastor e membros em um vinculo e mutua necessidade. De repente ambos pastor e ovelha se viram sob a urgente necessidade de intervenção de Deus para proteger, curar, restaurar da dor de alguém que partiu e das implicações trazidas das sequelas do vírus no organismo.

De igual modo àquele que lidava com o medo do outro estava com medo; Aquele que Lidava com o luto de algum membro da sua comunidade estava chorando a perda de seu ente querido; Aquele que visitava os hospitais para trazer alento e esperança aos seus fiéis estava hospitalizado em estado leve, moderado e/ou grave sem poder ser visitado pelos fies. Aquele que pregava a esperança estava necessitado de alguém para lhe trazer uma palavra de esperança encorajando-o da sua nobre vocação e missão neste mundo – apascentar o rebanho de Deus…

Se ao pastor compete à missão de CUIDAR quem cuidará do pastor? Pastores precisam de outros pastores que por conhecer e viver as mesmas experiências podem lhes entender sem criticá-los ou exigir destes uma postura que não reflete sua humanidade. A vivência com outro colega de ministério aproxima as experiências e ajuda a sarar a dor que ambos enfrentam no presente cenário.

Eles precisam de escuta, de encorajamento, de apoio emocional e em alguns casos de renovo espiritual. O apóstolo Paulo descreve esta realidade ao declarar da importância de Tito em sua vida sendo instrumento da Graça de Deus para consolá-lo em suas tribulações enfrentadas na Macedònia.

“Ele afirmou: Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito” 2 Coríntios 7:6

Obviamente que Deus em sua providencia poderia consolar Paulo por diversos meios, mas o fez por intermédio de outra pessoa para nos ensinar que gente precisa de Deus e também precisa de gente. O consolo de Deus lhe chegou por intermédio de Tito.

Que passagem gloriosa e cheia de ensinamentos. Somos seres relacionais e nas relações existem nutrientes terapêuticos capazes de sarar as dores existenciais. Paulo enfrentava provações internas e externas e Tito lhe trouxe alivio. Outra passagem Bíblica que nos ajuda a entender o valor desta relação no momento de aflição é a que se encontra em Mateus 26:38 onde as Palavras de Jesus revelam o valor dos discípulos ao lado seu lado no preâmbulo da sua crucificação. Assim diz a Palavra de Deus.

“Então compartilhou com eles dizendo: “A minha alma está sofrendo dor extrema, uma tristeza mortal.Permanecei aqui e vigiai junto a mim”

Para a alma sofrida um antídoto inigualável – a presença dos discípulos vigiando com Ele em oração. Diante do exposto até aqui, concluo deixando alguns conselhos para os colegas pastores como alguém que também vive este tempo de dor e aflição.

  1. Não tenha receio de expressar sua dor, sua aflição, sua necessidade de ajuda neste tempo. Lembre-se: Você é tão humano como o são todos aqueles que Deus lhe confiou para cuidar espiritualmente. Acredite eu também vivi momentos de medo e aflição desde que iniciou esta pandemia;
  2. Busque alguém para você falar sobre como se sente neste momento. A solidão não é a melhor escolha em nenhum momento em especial quando se está aflito. Eu também já procurei alguém para falar sobre o que estava sentindo e lhe asseguro que me muito me ajudou.
  3. Evite a autocobrança. Já basta o fardo inerente às expectativas que os outros colocam sobre sua vida e vocação. É provável que em algum momento o que você tentou fazer não funcionou ou quem sabe ainda não está funcionando. Não desista de tentar, mas tente sem o senso de perfeccionismo. Busque na Graça de Deus a suficiência para seu despenho e descanse nesta Graça para conseguir realizar e viver em paz com sua consciência. Isto é o que importa.
  4. Gaste mais tempo com seu momento devocional. Nada se equipara á presença de Deus percebida por meio da oração e da leitura da Sua Palavra. Pode parecer simples, mas tenha certeza o que vai permanecer ás aflições é o quanto eu e você como pastor de fato temos da parte de Deus e é na disciplina da meditação diária que somos abastecidos.
  5. Não hesite buscar ajuda profissional. Pastor também adoece e Deus usa como meio de Sua providência, profissionais que poderão ajuda-lo. Se Ele não agir extraordinariamente certamente o fará por de forma ordinária através daqueles que Ele capacitou dando a ciência como fundamento para interpretar, diagnosticar e tratar as mais diversas doenças. Eu também já me beneficiei deste meio da providencia divina.
  6. Integre o descanso ao trabalho e permita-se viver um tempo onde sua atividade laboral é diminuída na medida em que contempla, celebra com gratidão e harmoniza sua mente, emoção e corpo em descanso necessário. Isso não é sinônimo de ociosidade, mas de confiança. Na linguagem do Salmo 127 que tributa todo bem a Deus pode aprenda a confiar, pois: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem”

    Se distanciar desta qualidade de vida é correr o risco de viver emocionalmente doentio com impactos que repercutem além das suas emoções e deixam marcas em todo seu ser e relações. Citando Peter Scazzero:

    “O líder emocionalmente doentio é alguém que opera num contínuo estado de déficit emocional e espiritual, carente de maturidade emocional e de um “estar com Deus” suficiente para manter seu “fazer para Deus”.Lideres doentios carecem, por exemplo, da consciência de seus sentimentos, fraquezas e limites; da compreensão de como seu passado afeta seu presente e de como os outros o percebem. Eles também não conseguem penetrar profundamente nos sentimentos e perspectivas dos outros, carregando consigo essas imaturidades para dentro de suas equipes e de tudo que fazem

Uma palavra final. Lembremos que as aflições deste presente século não podem ser comparadas com a Glória que se revelará em nós no povir. Eis o que diz as Escrituras: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” Romanos 8:18. Não desanime. Siga em frente. Não desista de viver intensamente para a Gloria de Deus a missão que Ele em Cristo lhe confiou.

Referência
Scazzero, Peter. O líder emocionalmente saudável: como a transformação de sua vida interior transformará sua igreja, sua equipe e o mundo. São Paulo: Hagnos, 2016. Pag 23.
Bíblia Sagrada versão ARA Sal os 127:2,Mateus 26:38; 2 Coríntios 7:6.

José Alcione Pinto
Pastor e Psicólogo

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